Essa é a data em que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade do planeta de produzir ou renová-los ao longo de 365 dias. "Dívida ecológica" vem se acumulando
Esta quinta-feira, 1º de agosto, marca o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day), data em que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade do planeta de produzir ou renová-los ao longo de 365 dias. O dia é calculado pela organização internacional de sustentabilidade Global Footprint Network.
É como se tivéssemos entrado no cheque especial, passando a operar no vermelho com a Terra daqui para frente. Atualmente, usamos o equivalente a 1,7 Planeta por ano. Mais grave: estamos exaurindo os recursos naturais que os ecossistemas produzem ao longo de um ano cada vez mais cedo.
Em 1936, quando a estrela do atletismo Jesse Owens tornou-se o primeiro atleta a vencer quatro ouros em uma Olimpíada, a humanidade consumia 0,6 Terra, ainda dentro dos limites para o ano. Em 1971, o Dia da Sobrecarga da Terra caiu em 25 de dezembro. Nos anos 2000, a data aconteceu em 22 de setembro. Em 2008, quando Usain Bolt quebrou seus primeiros recordes olímpicos, a dívida cresceu para 1,6 Terra.
Agora, entramos em dívida com o Planeta na metade do ano: em apenas sete meses já foram consumidos todos os recursos naturais disponíveis para o ano inteiro. Em 2023, o Dia da Sobrecarga foi em 2 de agosto. No restante do período de agosto até dezembro, a humanidade vai operar em déficit ecológico, vivendo do uso excessivo de recursos e esgotando ainda mais a biosfera.
E juros serão cobrados. As consequências deste abuso são várias: erosão do solo, perda de biodiversidade e acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera, o que leva a eventos climáticos extremos mais frequentes, redução da produção de alimentos e da segurança alimentar e hídrica para as presentes e futuras gerações.
Atualmente, mais de 80% da população mundial vive em países que usam mais do que seus próprios ecossistemas podem renovar. Residentes do Japão, por exemplo, consomem recursos de 6,6 “Japões”. Para manter seu ritmo de consumo e estilo de vida, a Suíça consome o equivalente a 4 vezes a biocapacidade do seu território. E os Estados Unidos, 2,4 vezes o próprio país.
Em contrapartida, os EUA são o país com maior pegada ecológica comparado aos demais países, tanto que se o mundo inteiro consumisse como os americanos, seriam necessárias 5 Terras, como mostra o gráfico abaixo. Se todos agíssemos como os norte-americanos, a data de contração da dívida com a Terra seria bem antes, ainda no mês de março.
Como é feito o cálculo
Para determinar a data do Dia da Sobrecarga da Terra para cada ano, a Global Footprint Network divide a biocapacidade do planeta (a quantidade de recursos ecológicos que a Terra é capaz de gerar naquele ano) pela Pegada Ecológica da humanidade (a demanda da humanidade para aquele ano) e multiplica pelo número de dias em um ano. Em 2024, por ser bissexto, são 366 dias.
As métricas são calculadas a cada ano nas Contas Nacionais de Pegada Ecológica e Biocapacidade mais recentes, produzidas pela Footprint Data Foundation (FoDaFo) e a Universidade York, do Canadá. Sempre que possível, dados mais recentes de iniciativas e entidades como Global Carbon Project e International Energy Agency (IEA) são incorporados.
Como atrasar o Dia da Sobrecarga da Terra
Será que podemos reunir a mesma determinação olímpica para reverter essa tendência negativa? "Acabar com a sobrecarga é essencial. Também é possível, dado o potencial humano", diz Debora Barioni, da Global Footprint Network. Soluções para atrasar o Dia da Sobrecarga da Terra estão disponíveis e são financeiramente vantajosas, destaca o GFN. Oportunidades existem em áreas diversas, que vão de cidades e energia à alimentação e planejamento da população. Confira a seguir as 4 principais, segundo a rede.
1-Precificação do carbono
Estabelecer um preço de US$ 100 (aproximadamente R$ 565,8) por tonelada de carbono adiaria o Dia da Sobrecarga da Terra em 63 dias.
Os impostos sobre o carbono colocam um custo direto, o que desincentiva atividades altamente poluentes. As receitas também podem ser investidas em infraestrutura verde ou devolvidas igualmente a cada cidadão. Os mercados de carbono alcançam o mesmo objetivo por meio de um mecanismo ligeiramente diferente: em vez de um custo fixo, o governo coloca um teto nas emissões e leiloa cotas de emissões para empresas, que podem então comprar e vender essas cotas entre si.
2-Ter menos filhos
Se cada família tivesse um filho a menos e a paternidade fosse adiada em pelo menos dois anos, o Dia da Sobrecarga da Terra seria adiado em 49 dias até 2050.
Segundo o Global Footprint Network, começar uma família mais tarde na vida cria uma lacuna maior entre as gerações, e pais mais velhos tendem a ter menos filhos. Esses fatores contribuem para tamanhos menores de família, o que, por sua vez, diminui a demanda no planeta.
3-Green New Deal (Novo Acordo Verde)
Caso metade do mundo implementasse um Green New Deal com o nível de ambição do da União Europeia, o Dia da Sobrecarga da Terra poderia ser adiado em 42 dias nos próximos 10 anos.
Neste momento, planos econômicos e iniciativas climáticas são vistos como separados. Ao incorporar necessidades ecológicas em planos econômicos, muito mais países e regiões poderiam efetivamente começar a mudar sua dependência de recursos.
4-Cidades inteligentes e adoção massiva de renováveis
Se aplicadas mundialmente, as cidades inteligentes poderiam adiar o Dia da Sobrecarga da Terra em 29 dias.
Essa solução aproveita tecnologias existentes para edifícios, processos industriais e distribuição de eletricidade, e corta a dependência de transporte com uso intensivo de energia. O Global Footprint
Network pontua que todas as cidades precisam se ajustar à realidade de extremos climáticos aumentados e acesso reduzido a recursos. A adoção massiva de energias renováveis também atrasaria a o Dia da Sobrecarga em 29 dias, segundo a rede.
Fonte: Um só Planeta
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